Entrevista a Nuno Nepomuceno

 Esta semana o nosso convidado para a rubrica entrevistas é Nuno Nepomuceno, que acaba de lançar mais um livro, O Cardeal.

Fiquem a conhecer um pouco melhor este autor português que é uma referência no atual panorama literário, e a quem aproveito para agradecer a disponibilidade para dar resposta às minhas questões.

HT: Como é que um controlador de tráfego aéreo se torna num escritor?

O meu gosto pela escrita começou com a leitura. Desde muito pequeno que fui habituado a ler pela minha mãe, que me levava a uma biblioteca itinerante que passava quinzenalmente na aldeia em que vivíamos. Para mim, era um grande frustração, uma vez que o bibliotecário não deixava que fosse eu a escolher os livros, para além dos três que era permitido trazer saberem a pouco. Mais velho, uma das minhas irmãs começou a oferecer-me coleções pelas ocasiões festivas, comprando-me um, ou dois, de cada vez, conforme podia.

Foi assim que aprendi a gostar de ler, algo que continuou durante a adolescência e a entrada na idade adulta, motivando uma curiosidade natural sobre como seria estar do outro lado, ou seja ser eu a ter o poder de escrever a história e assim ligar-me ao leitor. Diria mesmo que os livros têm-me acompanhado durante toda a minha vida, independentemente do rumo que tenha tomado nas diferentes fases pelas quais tenho passado. O facto de ter outra profissão é uma segurança pessoal. Desde cedo percebi que seria difícil viver exclusivamente da escrita, como é comum na grande maioria dos escritores portugueses.

HT: É fácil conciliar as duas coisas?

No início, foi. O facto de trabalhar por turnos tornava a gestão do tempo mais fácil, uma vez que me permitia ser mais flexível. Hoje em dia não é bem assim. Ambas as carreiras evoluíram bastante, o que me fez assumir mais responsabilidades tanto numa, como noutra, além da minha vida familiar ser consideravelmente mais complexa. Costumo dizer que sou preguiçoso, pois parece-me que hoje em dia nunca consigo fazer tudo o que quero, mas a verdade é que não o sou. Neste momento, manter as duas carreiras é um equilíbrio árduo, e tenho de trabalhar imenso para consegui-lo.

HT: Acabou de lançar o quinto livro da série Afonso Catalão, “O Cardeal”. Pode falar-nos um bocadinho sobre ele?

Vejo O Cardeal como um livro sobre segredos familiares, com personagens que gostam de livros, para pessoas que gostam de ler. O livro inicia-se com a morte de uma criança e com a descoberta de um cadáver de uma criança, dois crimes nos quais um escritor famoso, já conhecido dos leitores da série desde A Morte do Papa, é implicado. Mas será que foi ele, ou não, o responsável pelos homicídios? Que papel terá tido a irmã, Lizzie, uma leitora voraz?

O Cardeal é também um livro que considero de transição na minha carreira, onde espero que quem o leia encontre um escritor em amadurecimento, que não se limita a executar reviravoltas para chamar a atenção. Aliás, independentemente do desempenho comercial que o livro venha a ter, prefiro que seja reconhecido pela qualidade que tem, do que pelo reconhecimento que possa vir a trazer-me.

HT: Gosta de Ler? Se sim, quais as suas referências literárias?

Sim, bastante. Leio sobretudo thrillers, embora seja normal fazer algumas inflexões por outros géneros, como a fantasia, ou os romances históricos. Admiro bons narradores, como é, por exemplo, o caso de Ken Follett, cuja carreira merece a minha admiração. O livro que ando a ler atualmente intitula-se A Paciente Silenciosa, de Alex Michaelides

HT: Para terminar, sei que ainda é muito cedo, mas não posso deixar de perguntar: já pensa num novo livro ou ainda está a “aproveitar” este?

Atualmente, estou a trabalhar na reedição de O Espião Português, o meu primeiro livro, que a Cultura Editora irá lançar ainda este ano. Simultaneamente, ando a tomar algumas notas sobre o próximo volume da série Afonso Catalão, embora lentamente. Não gosto de trabalhar com duas personagens tão fortes em simultâneo.


Muito obrigado,

Nuno.


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