Entrevista a Nuno Ferrão

As entrevistas estão de volta ao Histórias Transmitidas, desta vez com Nuno Ferrão, autor do livro "Desamor". 
Obrigada ao Nuno pela disponibilidade para responder às minhas perguntas.

HT: Escreveu um primeiro livro juntamente com 3 autores e, entretanto, lançou a solo “Desamor”. Como surgiu a ideia deste livro?
O primeiro livro, o Estórias Limbidinosas, foi escrito com um amigo, o André Curvelo Campos, em 2010. Trabalhávamos na Agência Lusa. Eu na redação de Lisboa, ele na delegação de Bruxelas. Foi uma aventura inesquecível, escrever o devaneio por mails, os diálogos por messenger. O Desamor surgiu com um desafio inadvertido de um responsável por uma grande editora nacional. Quando avaliou o Estórias Limbidinosas, deu-me um valente raspanete. Disse-me que o livro faria corar Gil Vicente e que nenhuma mulher compraria. Que eu seria um escritor falhado, porque o mercado livreiro é dominado pelo público feminino e eu era incapaz de escrever para mulheres.

HT: Li algures que este era um livro “para mulheres” Acredita mesmo nisso ou acha que pode agradar a todos os géneros? Ou melhor, acha que o romantismo e as grandes histórias de amor são uma coisa exclusivamente feminina?
O raspanete ficou-me cravado. Ironia das ironias, o Estórias Limbidinosas mereceu um prefácio da Ana Markl e um posfácio da Joana Amaral Dias. Apesar de publicado  pela editora Afrontamento,  com a colaboração de duas mulheres, o raspanete não me saiu da cabeça e propus-me escrever um romance… para mulheres. Foi surpreendente, porque os ‘feedbacks’ mais emotivos que recebi foram-me enviados por homens. 

HT: Presumo que goste de ler. Em caso afirmativo, quais as suas referências literárias? 
Gosto muito de Boris Vian. Tenho as obras todas dele. O sarcasmo e a ironia proporcionam uma leitura ligeira e muito divertida. Também me impressionou a história de John Kennedy Toole, o escritor que recebeu o prémio Pulitzer a título póstumo, pela obra ‘Uma Conspiração de Estúpidos’. Depois de ser escrita, a obra foi rejeitada por vários editores norte-americanos, um cenário que levou o escritor a suicidar-se. Li e achei magnífico. Também gosto de José Prata. Adorei o ‘Os Coxos Dançam Sozinhos’. A obra de Dinis Machado, uma mistura de policiais com novelas. O ‘O Que Diz Molero’ é fenomenal e outro dos meus livros prediletos. Para mim, um livro é uma fonte de divertimento. Folheio avidamente as obras carregadas de ironia e provocação.

HT: O que acha do actual panorama literário português?
Posso dar o meu exemplo. Editoras com o calibre da Guerra & Paz, que acolhem escritores ‘desconhecidos’ é motivador. Acho que a aposta tem passado pelo lançamento de novos autores, o que alarga o leque de oferta.

HT: Para terminar, já está a trabalhar num novo livro? Se sim, pode levantar uma pontinha do véu?
Estou a começar um novo romance, a par de uma biografia. Claro que mantenho segredo. Sou supersticioso e não quero dar azar.

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