Entrevista a Lénia Rufino

Hoje publico uma entrevista com alguém de quem gosto muito: a Lénia Rufino.

Conheço a Lénia, ainda que virtualmente, desde que os blogs eram blogs. Sempre gostei da sua escrita e da forma "terra a terra" como encara a vida. 

A Lénia sempre quis ser escritora e, como mulher cheia de garra que é, acaba de editar o seu primeiro livro: "O Lugar das Árvores Tristes".

Do livro falaremos mais à frente. Hoje vamos ficar a conhecer um bocadinho melhor a Lénia, a quem aproveito para agradecer mais uma vez a disponibilidade para responder às minhas perguntas.


HT: Ora então, vamos começar por aquela que me parece uma pergunta inevitável: como e quando é que surgiu o gosto pela escrita? 

Eu apaixonei-me pela leitura muito cedo: sou filha única, os anos 80 não eram profícuos em ocupações de tempos livres para crianças, e eu passava muito tempo sozinha. Os livros tornaram-se na companhia habitual quando eu tinha uns 7/8 anos. Depois, por volta dos 10, no 5º ano, comecei a escrever uns contos, que eram uma espécie de fanfic de uma novela que dava na altura, chamada "Cinzas" (olá, Ricardo Carriço, e Sofia Sá da Bandeira!). Aquilo era muito mauzinho (os meus contos, não a novela), mas as minhas colegas ficavam ansiosas pelo capítulo da semana seguinte (acho que me especializei cedo em cliffhangers!) e aquilo incentivou-me a continuar. Depois fui percebendo que isto de contar histórias era uma coisa maravilhosa, que me preenchia. 

HT: Como é que uma mãe, profissional de marketing e ainda leitora compulsiva consegue arranjar tempo para escrever um livro? 

Não consegue... e por isso é que este livro demorou 9 anos a estar cá fora. O processo de escrita propriamente dito levou 4 anos. Comecei a escrever quando o meu filho mais novo tinha 1 ano. Na altura, eu estava em casa, tinha um trabalho em part-time e tinha começado a fazer bolos de aniversário (sim, fui cake designer durante 3 anos!). Pelo meio, a ideia deste livro começou a ganhar terreno e lancei-me a ela. Durante três anos escrevi muito pouco. Cada vez que me sentava para escrever, e porque tinha passado tanto tempo desde a sessão de escrita anterior, sentia necessidade de ler tudo o que já tinha escrito (e de fazer revisões e mais revisões...) e avançava muito pouco. Comecei a escrever este livro no final de 2012 e acabei no início de 2017. Nesta altura, já estava há dois anos a trabalhar a tempo inteiro (mas já não fazia bolos!). Os últimos seis meses de escrita do livro foram para escrever aí uns 70% dele. Ou seja, fiz um sprint no final. 

HT: Por falar em leituras, se fosses para uma ilha e só pudesses levar 3 livros, quais escolhias?

Esta é fácil: levava o Ensaio Sobre a Cegueira (que é o meu livro preferido de sempre), os livros da série Robert Hunter, do Chris Carter, o meu autor de thrillers de eleição (e sim, fiz batota, mas aqueles livros têm de ser lidos assim de enfiada, não dá para ler só um!), e o Crime e Castigo, do Fyodor Dostoyevsky, porque nunca li e acho que me ia ocupar uns dias. 

HT: Podes aguçar-nos ainda mais a curiosidade e falar um bocadinho do teu livro? 

Então, o meu livro surgiu porque um amigo meu tirou uma fotografia perto de um cemitério. Ele é um fotógrafo incrível e aquela imagem, que ele tirou sem grande preparação ou intenção, tinha uma carga dramática absurda. E levou-me a uma das minhas memórias de infância mais fortes: a do primeiro funeral a que eu assisti. Mas... o livro é muito mais do que aquele funeral. A partir dessa memória, conto a história de Isabel, uma rapariga que adora passear no cemitério da sua aldeia, que é um sítio onde ela encontra uma paz que não encontra em mais lado nenhum. Só que, a dada altura, percebe que não sabe como é que morreu uma das pessoas que está lá enterrada e vai à procura de respostas a uma coisa que, para ela, é simples de explicar e não tem nada que saber. Acontece que ninguém lhe conta como é que aquela mulher morreu e isso fá-la perceber que tem ali um mistério a morder-lhe os calcanhares. E, conforme procura respostas para isto, acaba por descobrir a história da sua própria família e daquela aldeia. E ali nada é exactamente o que parece...

HT: Para terminar, a escrita é para continuar, ou este "O Lugar das Árvores Tristes" vai ser "filho" único?

Não, seguramente que não! Aliás, tenho mais 6 manuscritos começados. Não sei se todos têm potencial para se transformarem em livros, mas sei que este não vai ser filho único. E espero que os próximos ganhem vida um dia destes. Não me imagino sem escrever, e estas histórias todas que guardo cá dentro "pedem" para serem contadas...

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