Entrevista a Pedro Guilherme-Moreira

Tal como prometido publico a entrevista que fiz ao escritor Pedro Guilherme-Moreira.
Não posso deixar de agradecer ao Pedro a simpatia e disponibilidade com que respondeu às minhas perguntas e dizer que aguardo ansiosamente o projecto sobre o Holocausto.

Histórias Transmitidas: Como é que lhe surgiu o gosto pela escrita?
PG-M: Creio que veio no sangue contaminado do meu avô escultor. Na badana esquerda do livro “A manhã do mundo” conta-se a história, verdadeira, da forma como ganhei consciência de que este era o meu destino: a fábula que escrevi na segunda classe, transformando a professora em formiga. Ganhei consciência de como se manipula o barro.

Histórias Transmitidas: Li algures que, e passo a citar:  “aos 25, decidiu publicar apenas aos 40, porque queria saber, e escrever, mais.” Acha que a escrita de qualidade precisa de vivências e experiências?
PG-M: Precisa essencialmente de muitos anos de leitura, que, a partir de determinado ponto, deve passar a ser uma leitura crítica da perspectiva do ofício. Aos 25 percebi que não tinha estilo, não tinha nada, que nem perto estava dos que admirava. Aos 37 voltei a testar a prosa, porque escrevo poesia desde sempre, e pareceu-me que, como diz o Lobo Antunes, podia começar a tentar escrever “contra” os melhores.

Histórias Transmitidas: Editou o seu primeiro romance (A Manhã do Mundo) em 2011. Como é que correu o processo de edição? Foi aceite logo pela primeira editora ou teve que “bater a várias portas”?
PG-M: Talvez seja difícil publicar poesia, conta, crónica, mas não é difícil publicar a prosa de quem tem voz própria e mão segura. Aliás, sem isto ser nenhuma receita, penso que nos devemos submeter sempre à mediação do editor e não auto-editar. É um contributo público. A mediação e o leitor como parte do texto são as minhas maiores descobertas da maturidade. Mas foi um encontro entre mim e a Maria do Rosário Pedreira, uma encontro nada pacífico, em que nos começamos por estranhar, mas acabámos por perceber que formamos uma boa equipa, nada evidente, nada pacífica, mas boa.

Histórias Transmitidas: No livro "A manhã do mundo", faz imensas referências ao Holocausto. Nunca ponderou escrever sobre este tema? 
PG-M: Tenho um projecto sobre o Holocausto que está sem suspenso há cinco anos, à espera de uma tradução do íidiche de um documento fundamental para a auto-consciencialização dos judeus do crime que estava a ser cometido sobre eles. E, como é um tema recorrente, mas fundamental, vai ter uma formato original, mas é uma história que eu tenho de contar. Tenho mesmo.

Histórias Transmitidas: O que mudou na sua vida depois de lançar este livro?
PG-M: Quase nada. Tive de aprender um novo meio profissional, e isso demora tempo. E tenho o privilégio de ser chamado aos lugares onde se pode mudar o mundo: as escolas.

Histórias Transmitidas: Sei que não se dedica inteiramente à escrita. Como é conjugar a sua actividade profissional com a escrita?
PG-M: Muito difícil em tempo de lançamentos, relativamente fácil fora dele. É uma conquista diária. Trabalhando de noite, consigo “fechar” manhãs e tardes ao mundo, só para escrever e trabalhar a escrita. Porque deixei de conseguir escrever de noite (foi nas madrugadas que comecei, mas agora só consigo escrever durante o dia e em cafés onde ninguém me conhece).

Histórias Transmitidas: Presumo que goste de ler. Quais são as suas referências literárias?
PG-M: São tantas, que prefiro dizer-lhe quem me treinou a voz própria em português: Lobo Antunes, Saramago e Pessoa. Quem me toldou e ajudou a apurar: Askildsen.

Histórias Transmitidas: Para finalizar, sei que acabou de lançar um novo livro (Livro sem Ninguém), mas não posso deixar de lhe fazer a pergunta habitual: já tem planos para outro livro ou ainda está a “descansar” deste?
PG-M: Nunca me detenho e tenho vários inéditos em estado avançado. Tenho um livro praticamente pronto que quero que saia em 2015, sim.

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